' Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.'

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Eu só tenho um problema particular

com o destino.
Não quero dizer que não gosto dele. Adoro o cara! Por que na boa, se 'destino' tem um sexo, é masculino! Não sei... não é nada pessoal mas é que ele as vezes tende a ficar muito em cima do muro, entendem a situação?

Tipo: você caminhando pela rua e sem mais nem menos vem o destino e faz 'aquele amigo' dele cruzar com você. Legal. Obrigada destino você é fantástico. Mas, o que acontece depois? Nada.
É você quem tem que fazer alguma coisa com urgência porque o que o destino quer é jogar e cá entre nós, ele é muito bom em dar as regras!
Você decide se vai ou não arcar com a consequência de lançar um dado.

É igual a ter um pedaço de pão que o destino deixou na sua mão e o qual você não tem mais vontade nenhuma de comer. Então vê uma criança carente que o destino colocou no seu caminho, é que ele gosta de a todo instante te provar que tá por ali...Ele faz mais alguma coisa? Não.
Claro que não. É você que tem que pegar o pedaço de pão e entregar a pobre alma.
Afinal, o destino é homem. E as vezes, homens não ligam no dia seguinte, não reparam que você cortou o cabelo, não lembram da roupa que você tava usando na semana passada quanto mais se a sua unha tava pintada de vermelho ou de azul, oras!

Se o destino fosse mulher, faria o pão cair diretamente nas mãos da criança faminta, faria o lindo que cruzou seu caminho pedir seu telefone e te ligar, conseguiria ler seu pensamento e fazer o que tivesse que ser feito. E assim seria.

Mas isso é trabalho demais pra pouca recompensa. Afinal, se uma coisa dá certo a gente fica feliz mas se uma coisa dá errada a gente coloca a culpa no coitado do destino. Tadinho... Tratamos o injustiçado como um cafajeste e de verdade, pessoalmente ele me parece um cavalheiro em busca de compreensão nesses tempos tão moderno.
Já disse: meu problema com ele é particular e não pessoal.

Particular porque eu vivo insistindo em roubar dez ou quinze minutos do destino e avançar um pouco do tempo dele - leia-se que dez ou quinze minutos para o destino podem ser dez ou quinze dias pra a gente. Sim, o destino tem um tempo particular que acaba com as nossas vidas, almas e insuportáveis expectativas! - ou na pior das hipóteses não obedecer suas ordens naturais e esperar ele jogar a carta depois, do nosso dado.

Assim é. Como no jogo, na vida, com o destino, há uma sequência lógica intercambiada entre os jogadores. Se você tem bom jogo, dá a próxima carta, se não, espera o outro jogar!
Mas o destino comigo é esperto... As vezes ele só está blefando mas me mastiga no tempo e me faz colocar as cartas da manga antes do necessário.
Porém, ele é doce. E que chato seria se ele não existisse pra fazer a gente ter aquelas dúvidas depois que ele cruza nosso caminho, do tipo: ligo ou não ligo? Vou de trem ou de avião? Ele vai passar pela minha rua de novo ou eu vou ter que dar um jeito de chegar onde ele trabalha? A blusa rosa ou a azul pro meu chefe elogiar o relatório?
Me poupe. Como a gente ia viver assim? Sem essa felicidade relacionada ao: vai ser do meu destino então vou tentar por esse caminho!

Um dia eu vou aprender a lidar com ele sem o meu problema particular e encará-lo como o cara bacana que ele deve ser! Até lá estou tentando esperar pacientemente as cartas enquanto interfiro no seu jogo!
As vezes eu tenho cartas melhores! Ele? Ele ri, claro! Fica pensando consigo ' agora ela pode e amanhã eu giro a mesa pra ela aprender a respeitar a quem conhece mais caminhos e mais vidas'.
Mas pra mim, as vezes ele bem gosta de um empurrãozinho.
Nisso eu gosto do destino. Acho ele super sexy. Afinal, formamos quase uma relação recíproca, salvo pela diferença que ele conhece meus passos e o contrário não acontece.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O mais engraçado da memória

Há dias em que esqueço que estou em Santiago e acordo com tudo escuro às 8 da manhã sentindo aquele frio gostoso e tendo mais e mais vontade de ficar na cama.
Então esqueço. Esqueço que tô aqui e penso: ai, que inverno gostoso em um dia de domingo em Salvador!

É nesses dias em que penso como nossa memória tem um dom especial de distrair-se e não percebemos!
Nos acostumamos com uma coisa e simplesmente aprendemos a conviver amigavelmente com ela. Me acostumei a estar aqui e esqueço.
Me acostumei com a falta de alguém e me esqueço.
Me acostumei a um problema sem solução e o esqueço.

Mas basta ficar com aquele incomodo por dentro, aquele alguém que incomoda, a ação que você talvez se arrependa de não fazer ou fazer, a pressa de algo e tudo isso vai te incomodar e muito.

Obrigada memória!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Porque eu precisava

A verdade é que eu tive uma virada de ano fatal.
Ruim, cheia de chateações, semi doente, triste, me sentindo uma incompetente, com mil planos na cabeça e nenhum deles posto em prática nunca.
Só uma coisa alimentava minha esperança de ter um 2012 diferente: minhas férias na Espanha. E um monte de gente me perguntou por que? Por que Espanha? Por que tanta empolgação pra uma viagem? Quanto de expectativa você tem? E eu dizia sempre o mesmo: nenhuma expectativa e só por que eu quero melhorar meu nível de espanhol.

A verdade é quase essa.
Eu queria muito melhorar meu espanhol, mas é bem verdade que uma viagem dentro do Brasil me teria feito muito bem por férias e eu gastaria muito menos.
Não é mentira igual, que eu não tinha muitas expectativas.
Pra mim era só chegar aqui, enrolar um mês no espanhol, tirar fotos bonitas e me afastar um mês de tanta loucura e energia negativa que eu tava sentindo dentro e fora de mim.

Mas a verdade, essa que eu não contei a ninguém, é que eu não escolhi essa viagem ao acaso!
Eu precisava descobrir a outra metade de mim.
Saber das minhas outras raízes, da minha outra família, da minha outra genética, do outro clima, do outro idioma, da outra culinária, da outra cultura.
Eu precisava saber se essa parte de mim era boa ou ruim, se me deixava completa ou vazia, se me faria rir ou chorar e se me ajudaria a crescer como pessoa ou não.
Eu precisava descobrir se essa outra metade era tão importante quanto aquela parte de mim que perdi antes de ter todas as conversas, de fazer todas as perguntas e de me questionar esse ou aquele comportamento.

O que eu descobri em um mês na Espanha não daria pra traduzir em palavras.
A intensidade dos sentimentos, do clima e da cultura fizeram a minha raiz tremer abaixo do solo! Saber que eu também pertenço a isso renovou o meu espírito, me fez enxergar gente nova e me entregar a essa gente de maneira intensa, de ver beleza em conhecer o desconhecido, em explorar, em aprender algo novo e principalmente, em saber que o que eu sou e a minha maneira de ser não foram herdados geneticamente atoa, ou apenas por uma parte muito pequena, mas por um todo que eu não conhecia aqui.

A verdade é que a cada dia do meu mês de férias eu tinha mais e mais vontade de fazer o tempo parar aqui, a verdade é que a incomoda saudade que eu sentia era aliviada com doses diárias de risadas, 'cañas e tapas' e carinho de uma gente que me recebeu com braços abertos e mãos estendidas. Gente que me acha capaz, que me elogia, que me impulsiona e que, principalmente, me faz sentir com 22 anos e peso de 18.

Eu não tirei só férias do trabalho. Eu tirei férias da minha vida, da minha rotina, eu descobri uma cidade nova por inteiro, eu já viajei explorei outro país, eu aprendi canções inteiras, eu aprendo uma palavra nova por dia, eu não faço planos, eu sou querida, eu andei de ônibus só uma vez em 40 dias, eu terminei um livro inteiro em outro idioma em 15 dias, eu já penso em espanhol quando tento pensar em português, eu falei sobre política, sobre economia, sobre publicidade e sobre sexo com gente que eu nem conhecia.

Eu me lembrei o que é estar numa faculdade por inteiro, eu reconheci o quanto gasto dinheiro mal, eu aprendi como é bom dormir apenas 6 horas por dia, eu compreendo que uma pessoa sensível é tão encantadora quanto uma pessoa inteligente, eu mais do que me amo mais por não ser esnobe ou arrogante e agradeço ainda mais a Deus por não fazer a minha personalidade assim.

Eu reconheci que não preciso dizer sempre sim para ser boa e que ajudar nas coisas mais simples é a tarefa mais importante importante em qualquer país.
Reconheci que o cocô do cachorro vai estar numa calçada até da Suíça e que gente má vai estar em todo canto, escondida ou já preparada pra dar um bote no seu coração. Mas eu tenho certeza já, que gente boa vai sobressair em todos os sentidos.

Eu tomei uma decisão quase precipitada! Claro que eu pensei, pensei de novo, pensei mais um pouco e resolvi ficar.
Mas a realidade é que até outro dia eu ainda não sabia o por que exato.
Descobri. Eu precisava.
Ponto, era isso. É isso. Eu preciso me dar a oportunidade de sentir o que eu estou sentindo agora, de viver a experiência que eu estou vivendo e de finalmente entender que Deus nos esfrega o caminho que temos que seguir, o nosso problema é não ter coragem, pensar em todos os depois que não temos certeza nenhuma de como e quando virão.

Depois da Espanha? Yo que sé? =]
Eu vou viver agora e depois eu conto como foi depois.

Olé!